O mais difícil diálogo entre paradigmas é o que se dá no interior de cada um. Aliás, vou fazer como aprendi e falar por mim. No meu interior. No interior dos outros não sei o que se passa, precisariam eles me dizer.
Pois não morro de amores por militares. Já apanhei em passeatas, já vi cavalos de patas erguidas para pisotear gente, já senti o cheiro do gás e os olhos ardendo. Mas confesso que também sinto respeito e admiração. Pela disciplina, pela objetividade, pela impassividade. Tive parentes militares e uma notícia recente nos jornais reforça minha ideia do que podem ser os militares. As obras de transposição do Rio São Francisco realizadas pela engenharia do Exército estão quase 100 % prontas enquanto que todas as empresas privadas tiveram problemas. Muito quente e áspera a vida no deserto para os seres normais.
Uma vez defendi para um grupo de amigos que a meu ver deveríamos ter apenas um exército que defendesse as fronteiras. Dizia eu que achava um absurdo termos quarteis dentro das cidades, pagando do nosso bolso aquele monte de gente sem fazer nada. Ou na melhor das hipóteses fazendo ginástica. O motim dos policiais militares na Bahia mostrou que estou errado e me fez rever vários pressupostos.
Há muito tempo que as polícias militares perderam a honra. Sabendo que aqui vai uma generalização, ouso afirmar que são pessoas que passam em concursos públicos sem maiores exigências, sabem que vão ganhar pouco e que, logo que entram, passam a se dedicar a outras atividades. Na melhor das hipóteses segurança privada de ruas e pessoas. Na pior, milicianos impiedosos e cruéis.
Na Bahia acontece um motim e não uma greve. Nossa constituição é clara. Aos militares é vedada a sindicalização e a greve. Não sabiam disso quando entraram? Não caía no concurso esta pergunta? Junta-se a isso o fato de que o tal do Marco Prisco, nem PM é, foi expulso da corporação em 2002 por ter liderado levante semelhante em 2001. Tentou ser deputado pelo PTC e hoje é filiado ao PSDB. Não acredita? Pesquise, deu hoje no Valor.
Durante o motim um bando de milicianos aproveitou para fazer o que sabem fazer melhor. Esquadrões da morte. Dizem que os assassinatos na Bahia aumentaram. Mas o grosso do aumento vem exatamente de crimes com características de extermínio.
Só fiquei ressabiado com uma coisa. A diferença entre as atitudes das autoridades quando invasores são estudantes como no caso da USP ou pobres como no caso do Pinheirinho. Não sei se eu queria violência no caso da Bahia. Mas certamente preferia nos dois outros casos ter visto longos dias de negociação e gente comemorando aniversário com os desocupadores.
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