O magistral Zygmunt Bauman, em seu A Ética é possível em um mundo de consumidores ?, tece comentários bastante atuais sobre este choque paradigmático. Infelizmente atuais, uma vez que usa como exemplo o programa de TV Big Brother e outros do gênero, como Survivor etc. Programas em que os motes são não confie em ninguém, coopere apenas até o ponto em que isto significar vantagem para você. Citando textualmente o sociólogo polonês: "A vida é um jogo duro para pessoas duras, eis a mensagem. Cada jogo começa do zero, méritos passados não contam, cada um vale apenas o correspondente aos resultados do último duelo." A cooperação no Big Brother é instrumentalista, utilitarista. Os outros são antes de tudo competidores. Pinta-se um quadro darwinista de luta pela sobrevivência e lei do mais apto. Este mais apto usa conforme Bauman de muitos subterfúgios "[...] da descarada auto-afirmação até a dócil auto-supressão".
No fundo são programas de comunicação em massa, ensaios públicos que tratam do que Bauman chama de conceito da descartabilidade dos homens. Ninguém é indispensável, "[...] ninguém tem direito a uma parte própria nos frutos do esforço comum apenas porque ele ou ela foi adicionado ao grupo em algum ponto de sua história - muito menos por ser membro do time". Aliás, só há mesmo grupo, não há time ou equipe.
Escrevi recentemente no meu doutorado sobre este choque paradigmático, entre a cooperação e a competição. A boa ética acadêmica me impede de divulgar o texto que desejo, para garantir que ele seja inédito perante à banca... Fica para muito em breve. Por enquanto estas breves reflexões. A você, meu caro amigo, desejo que desfrute das conquistas desta nossa grande equipe humana. Sem ter que pagar por isso.
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