Prometi na última postagem, a mim mesmo e a quem tiver a paciência de ler mais de 140 caracteres, que o objetivo aqui não seria discutir épocas nem a história em si. No entanto, chegando hoje cansado de viagem, encontro o brilhante texto do Albuca que colo abaixo, para que ele mesmo se torne parte do blog. Assim o releio e desfruto. Havia também lido com prazer o comentário do caríssimo Fernando Neiva, sobre a sua própria revolução pessoal, ao ter encontrado o evangelho.
Então é isto. O diálogo já começou, outros autores se juntam a mim, que neste momento só tenho como desejo aos meus recém completados 55 anos me tornar autor de minha vida. Hoje estou cansado. Amanhã escrevo sobre o que tema que me ocupa. O texto de amanhã vai se chamar Afinal que diálogo é esse. Afinal apresentando o blog, para começar a chamar mais gente para escrever.
O texto do Albuca abaixo me enche de orgulho de minha formação no Santo Inácio, de todos os meus colegas brilhantes. Ele encerra dizendo que esperava ter semeado a dúvida criadora. O fez. Reconheço que o meu texto original era um copia e cola rápido de coisas da Wiki e de uma conversa maravilhosa com meu cultíssimo padrasto, uma enciclopédia viva. Mas assim vai se formando a verdade inatingível, de muitas visões, muitas abordagens e muitas leituras.
Recorto com bisturi uma ideia central do texto, a da necessidade de submissão e do poder do senhor, ou da estrutura. Do outro lado, o próprio texto fala em movimentos, logística e busca por manter uma homogeneidade. Gramsci falaria de hegemonia. Aí está, teses e antíteses, esforços por manter e esforços por derrubar, dialéticas dialógicas.
Um autor (E. Stemmelen, “La religion des seigneurs”) apresenta a tese de forte relação entre a fundação do cristianismo e a necessidade de justificar o abandono da liberdade individual, em benefício da submissão ao senhor mais tarde chamado feudal.
Por aquele prisma, a substituição de crenças não seria uma causa mas uma consequência de um movimento cujas causas se encontram em outros pontos, incluída a incapacidade de manter a logística necessária para sustentar as fronteiras e a homogeneidade do império. As famosas invasões bárbaras não teriam sido senão o processo de integração social daqueles povos vizinhos, primeiro conquistados, em seguida assimilados e, finalmente, conquistadores do poder como resultado natural da mobilidade social. Ao que parece, as fronteiras mais distantes não eram protegidas por romanos de Roma, mas por outros povos, podendo se encontrar o mesmo povo dos dois lado da fronteira. Daí, entre outras causas, a impossibilidade de manter demarcações estanques entre Roma e bárbaros.
Quanto mais leio, mais desenvolvo forte ceticismo quanto ao aspecto revolucionário e popular do início da cristandade. Alguns ateus ou agnósticos consideram a existência de quantidade de manipulações históricas, conscientemente estabelecidas a partir da época do declínio romano e desenvolvidas durante mais de um milênio. Saulo de Tarso, segundo alguns um adepto de uma tendência religiosa extremista, teria sido o verdadeiro fundador do cristianismo, depois de ter navegado entre as diferentes correntes religiosas em voga na época (ando a procura de alguma leitura séria sobre o mitraísmo).
Para compensar a falta de escravos (captura de guerra) e assegurar o aprovisionamento em bens essenciais, era preciso convencer o romano a aceitar a perda dos privilégios de cidadão rico, libre de inventar suas divagações, e transformá-lo em trabalhador integrado a um sistema estruturado de produção. Aí entraria interesse daquela pequena religião derivada de cultos persas recentemente na moda: o sacrifício e o abandono do bem-estar nesta terra, a submissão infantil ao senhor todo-poderoso, etc., correspondiam ao modelo econômico com mais possibilidades de sucesso.
Então, o abandono da vida urbana teria sido uma grande perda de autonomia filosófica do cidadão romano, perda forçada pela situação econômica desastrosa do fim do império. Daí uma espécie de refluxo social, quando aquela sociedade extremamente inigualitária se esfacelou o forçou a população “assistida” (como se diz hoje do cidadão francês protegido pela segurança social em vias de desmoronar) a aceitar submeter-se a um sistema de produção capaz de assegurar sua sobrevivência (evitar a fome). Os futuros feudos se formaram como último refúgio para aqueles cidadãos vítimas da inflação e do desmoronamento do sistema econômico.
Um autor (E. Stemmelen, “La religion des seigneurs”) apresenta a tese de forte relação entre a fundação do cristianismo e a necessidade de justificar o abandono da liberdade individual, em benefício da submissão ao senhor mais tarde chamado feudal.
Por aquele prisma, a substituição de crenças não seria uma causa mas uma consequência de um movimento cujas causas se encontram em outros pontos, incluída a incapacidade de manter a logística necessária para sustentar as fronteiras e a homogeneidade do império. As famosas invasões bárbaras não teriam sido senão o processo de integração social daqueles povos vizinhos, primeiro conquistados, em seguida assimilados e, finalmente, conquistadores do poder como resultado natural da mobilidade social. Ao que parece, as fronteiras mais distantes não eram protegidas por romanos de Roma, mas por outros povos, podendo se encontrar o mesmo povo dos dois lado da fronteira. Daí, entre outras causas, a impossibilidade de manter demarcações estanques entre Roma e bárbaros.
Quanto mais leio, mais desenvolvo forte ceticismo quanto ao aspecto revolucionário e popular do início da cristandade. Alguns ateus ou agnósticos consideram a existência de quantidade de manipulações históricas, conscientemente estabelecidas a partir da época do declínio romano e desenvolvidas durante mais de um milênio. Saulo de Tarso, segundo alguns um adepto de uma tendência religiosa extremista, teria sido o verdadeiro fundador do cristianismo, depois de ter navegado entre as diferentes correntes religiosas em voga na época (ando a procura de alguma leitura séria sobre o mitraísmo).
Para compensar a falta de escravos (captura de guerra) e assegurar o aprovisionamento em bens essenciais, era preciso convencer o romano a aceitar a perda dos privilégios de cidadão rico, libre de inventar suas divagações, e transformá-lo em trabalhador integrado a um sistema estruturado de produção. Aí entraria interesse daquela pequena religião derivada de cultos persas recentemente na moda: o sacrifício e o abandono do bem-estar nesta terra, a submissão infantil ao senhor todo-poderoso, etc., correspondiam ao modelo econômico com mais possibilidades de sucesso.
Então, o abandono da vida urbana teria sido uma grande perda de autonomia filosófica do cidadão romano, perda forçada pela situação econômica desastrosa do fim do império. Daí uma espécie de refluxo social, quando aquela sociedade extremamente inigualitária se esfacelou o forçou a população “assistida” (como se diz hoje do cidadão francês protegido pela segurança social em vias de desmoronar) a aceitar submeter-se a um sistema de produção capaz de assegurar sua sobrevivência (evitar a fome). Os futuros feudos se formaram como último refúgio para aqueles cidadãos vítimas da inflação e do desmoronamento do sistema econômico.
O único sobrevivente do sistema anterior foi aquela entidade capaz de alimentar a coesão filosófica do sistema, legitimando o modo de dominação e assegurando, ao mesmo tempo, a preservação das aquisições intelectuais da sociedade anterior: a igreja, fundada já no “estágio terminal” do império. Falo de preservação das aquisições intelectuais porque os chefes e senhores ou eram antigos soldados, ou bárbaros (talvez sejam termos redundantes), quer dizer, analfabetos mas suficientemente inteligentes para perceber o interesse em contar com o capital cultural e tecnológico preservado pela única instituição restante na Europa.
Tudo isso para contestar sua visão bela e idílica de uma juventude “tahírica” e cristã...
Fico por aqui, na expectativa de ter contribuído a semear a dúvida criadora.
Postado por Albuca no blog Diálogo entre Paradigmas em 7 de janeiro de 2012 08:55
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