quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Você nasceu para ser governado?

Você não sabe quem é Foucault? Nem Kant? Nunca ouviu falar da Revolução Francesa?. Não importa. Leia um pouco mais ou responda logo sim. Sim, eu nasci para ser governado, porque sou preguiçoso ou sou covarde. Não quero escrever o livro da minha vida e delego esta tarefa a outros. Quero ficar só reclamando. 
      Bom, o cara que você não conhece, Foucault, em sua série de palestras-leituras no Collège de France, em 1983, publicadas no Brasil sob o nome O Governo de Si e dos Outros traz uma ideia interessante. Na verdade, como boa pesquisa, esta se inicia com uma pergunta: Existe um progresso constante para o gênero humano? Foucault extrai esta pergunta das discussões de Kant (o segundo desconhecido) sobre as relações entre a filosofia e o direito. Isto porque seria obrigação do filósofo fazer o bonde andar e do jurista fazer o bonde parar nos sinais vermelhos, bem como inventar sinais vermelhos em todas as esquinas imaginárias possíveis.
    Após algumas reflexões lógicas das quais vou poupar quem não tiver a preguiça de ler este texto, Foucault aponta que sim, que existe um sinal claro de que o gênero humano avança. Sinal de existência de uma causa “rememorativum, demonstrativum, pronosticum”. “Isto é, um sinal que nos mostra que sempre foi assim (sinal rememorativo); um sinal de que é o que acontece atualmente (sinal demonstrativo); sinal prognóstico, enfim, que nos mostra que vai acontecer permanentemente assim.” (Foucault, 2011, p.17). Esse sinal claro, este acontecimento claro, é a Revolução.
    Kant se referia à Revolução Francesa (essa que a gente não se interessa por saber mais...), mas pensava em todas as revoluções. Deixava no entanto registrado que por revolução não entendia grandes gestos feitos por homens, coisas grandes que ficam pequenas ou coisas pequenas que se fazem grandes. Não imaginava que a revolução implicasse na derrubada de grandes edifícios políticos por uma magia que fazia surgir outros, como rosas que se transformam em coelhos em cartolas que engolem mundos. Não. O real significado da revolução é a maneira como é recebida em toda a sua volta por expectadores que não participaram dela, mas a vêem, a assistem e, por bem ou por mal, se deixam arrastar por ela. 
    A revolução, porém, é sempre um fracasso. Em primeiro lugar pelas mortes e sangue derramado. Isto não quer dizer que ela não deva ser feita. É esta a característica das revoluções. Quem as faz as faria de novo, mesmo que dizendo que se imaginasse tudo teria feito diferente, mais bonito... Um fracasso necessário, portanto. Mas o grande fracasso das revoluções é mais sutil. As revoluções são feitas por pessoas inconformadas com a situação de superimposição da vontade dos outros, situação causada supostamente pela violência ou ardilosidade de uma autoridade não mais aceita. Mas quem faz as revoluções são alguns poucos. Estes, que decidem desempenhar os papéis de libertadores, o fazem em nome dos covardes e preguiçosos. Esta é a lei que ao mesmo tempo condena e torna inexoráveis as revoluções. Os que as fazem caem necessariamente sob o jugo dos libertadores.
    Este texto não é pessimista. É só um lembrete. Você tem escolhas, como eu. Vai fazer parte no futuro muito próximo dos 1% que ficam nos castelos sem entender a revolta da turba e morre decapitado ou se disfarça de padre ou pastor... Vai fazer parte dos 98% que fazem a revolução. Ou vai fazer parte dos 1% de libertadores. Mesdames e messieurs, faites vos jeux. 

Referência

FOUCAULT, Michel. O Governo de Si e dos Outros. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011


2 comentários:

  1. Bidart,
    Estudamos juntos no CSI e nos reencontramos agora no fb. Lendo seus comentários, vejo que sou um dos que não conhecem Foucault e Kant. Não por nunca ter ouvido falar deles, mas por achar o discurso demasiado pesado (para mim, pelo menos).
    Sei que são dois importantes pensadores e filósofos que contribuíram para a evolução do ser humano.
    No entanto, sei também que há outras revoluções que acontecem num âmbito mais restrito, na nossa vida pessoal, e que a cada dia, aos poucos, transforma a nós mesmos e os que nos cercam. Falo de decisões, de mudança de rumo, de atitudes, reflexões, como essas que fazemos aqui. Eu vivi uma grande revolução quando me converti ao evangelho num momento em que não via mais sentido na minha vida.
    Garanto que foi uma revolução tão grande e tão importante quanto a mencionada em seu blog. Não tão famosa, mas trouxe um novo paradigma para mim.

    Fernando Neiva

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  2. Dei com os costados por aqui através de indicação da amiga Beth e gostei do que encontrei.
    Voltarei para ler mais.

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